A viagem ao Baronato é rápida, porém tensa, em dez horas o sol raiará e qualquer atraso pode indicar a morte final. Os cavalos disparam. A noite mal deixa as estrelas iluminarem o caminho...
O relhinchar do cavalo espanta a todo... "Flechas sendo disparadas em nossa direção!", "Salteadores!".
Escuridão...
O breu começa a se formar, uma nuvem negra e espessa cobre toda a região. A noite já era aterrorizante e agora se tornara profana. Os cavalos assustavam-se e seus cavaleiros pressentiam o pior. Rapidamente uma grande área comparada talvez a um baronato inteiro esta coberta com aquela mortalha. Os cavalos sufocam. Os salteadores tentam prender o ar, mas é inútil. Aquela escuridão não era normal, pois invadia além dos olhos os pulmões.
Pouco a pouco ela se dissipa e seu controlador confirma os mortos. Um salteador desfalecido em uma arvore estrategicamente preparada para atacar. Pronto, agora não tinham mais empecilhos, chegou à hora de continuar o caminho. Com sorte chegariam ao primeiro raio de sol.
O bosque termina em um enorme descampado onde se pode ver uma enorme muralha de pedra musgosa. Provavelmente demarcando a área do local. Algumas silhuetas são possíveis de enxergar em guaritas que ficam ao lado das enormes portas de madeira, posta uma em frente à outra.
“Alto! Que ventos trazem estes viajantes ao Baronato de Los Oros?" - A voz velha e cansada do que vinha de dentro da guarita transparecia um homem amargo e entediado por dentro.
“Deixe estar Paco! estes que vem cá comigo são meus guardas pessoais" - A menina Evellin mostrava-se presente.
“Desculpe senhorita, não havia percebido que era a senhora... ABRÃO AS PORTAS!”
Sem perder tempo com palavras desnecessárias Evellin e seus guardas disparam pela estrada de terra, onde se avista um novo bosque. O bosque torna-se menor e menos assustador quando se chegam às plantações dos servos, onde se pode para enxergar pequenas casas de barro e mais tarde um aglomerado de pequenas casas. Já estavam na vila, um lugar pequeno, poucas casas, cerca de 50 habitantes, uma igreja, a praça central e a taverna de frente para esta ultima.
O Sol começava a sair por entre o bosque. Tímido, fresco e mortal...
O desespero das criaturas amaldiçoadas que vinham com Evellin tornavam-se visíveis. Os cavalos relhinchavam, seus montadores os apertavam, pois o sol da era visível. O barulho da cavalgada tornara-se mais intenso. Finalmente viram-se os portões da casa da baronesa. "É ali... Abrão os portões... Quem lhes ordena é Evellin filha da Baronesa! Rápido!". Os portões se abrem sem vacilo. Em fim abrigo. Os cavaleiros ainda desesperados correm ao encontro de seus quartos, sem pedir permissão para entrar, foram todos rudes e grosseiros "Meus aposentos, apresse-se!". Mas Evellin entendia tal agonia, era a maldição do sangue. A Maldição de Caim.
O Sol se fora. É noite em fim. As criaturas despertam, agora sim estão dispostas a pedir desculpas pela rudeza desta manhã. Apos arrumarem-se e saírem dos quartos, Agnaldo, o criado lhes indica:
- A Baronesa vós esperam na sala de jantar. Ela gostaria de conhecer os guardas que escoltaram sua filha.
Descendo as escadas, os quatro cavaleiros agora percebem a majestosidade do local. Digna de uma rainha. Mas agora que estão todos aqui, onde está o outro? Onde está aquela criatura asquerosa que atende por Papilo? Havia fugido antes de chagar ao baronato? Eles não notaram, pois a tensão havia tomado conta de seus corpos cadavéricos. Sem duvida este rato havia sumido, é assim que eles agem. Covardes.
Durante o percurso eles não haviam pronunciado uma palavra sequer. Chegaram ao grande salão de jantar. Muitos quadros e muita seda pendurados de forma artística por todas as paredes da sala. Uma enorme mesa, farta, um banquete para heróis. Na cabeceira estava provavelmente a baronesa, uma senhora de aproximadamente cinqüenta anos de idade, mas com um vigor fenomenal, de sua face escapava um sorriso tímido. A sua esquerda estava Evellin, cabisbaixa. E a direita esta um homem, aos trinta e poucos anos, parecia ser eclesiástico, pelas roupas e pelas jóias. Logo ao lado deste estava um rapaz mais novo, talvez possuísse a mesma idade que Evellin, mas sua aparência era de cansado, o peso de sua armadura bem trabalhada poderia ser um dos motivos. Sua expressão era de desgosto, ao seu lado estava escorada sua espada, ela a olhava, como se fosse o combate a única solução para sair daquele jantar entediante.
- Cavaleiros! Fico grato de conhecer os guardas que trouxeram meu tesouro, minha em segurança de volta ao lar. - A Baronesa anuncia-se ao levantar - Não fiquem tímidos - aproxima-se dos quatro - Evellin me contou sua pequena aventura na estrada. Gostaria de conhecer a graça dos seus heróis.
- Ragnar dy-Kendric. - o homem com traços nórdicos, ostentando uma poderosa armadura de batalha ajoelha-se a Baronesa e apresenta-se. Logo em seguida os dois brutamontes que estão ao seu lado imitam-no.
- Fernan de La Vega. Marques das terras de Vegas, ao leste deste baronato. - Este que falava era o mais alto de todos, um tremendo monstro.
- Dom Agostino. - Como todos fizeram, este outro gigante ajoelhe-se ao falar.
Em um gesto diferente dos outros, o menor e de aparência mais fraca, aproxima-se da Baronesa. Ela o percebe agora, pois os outros estão ajoelhados e não dificultam sua visão. Homem de bom gosto, com seda nobre, porém nota-se claramente que não é europeu, talvez seja mouro. "Ramsés II. è bom finalmente está em sua presença minha baronesa." Ele a encanta e beija sua mão gentilmente.
- Agora deixem apresentar meus filhos. - tomando o controle de volta, a mulher aponta ao homem que parece ser clérigo. - O mais velho é Paolo, diácono formado em Roma, administra a pequena igreja lá na vila, acredito que vocês tenham notado. O outro homem é Frederico, excelente guerreiro, é chefe da Milícia Oficial. Quanto a Evellin, vocês já a conhecem. - Conclui.
Os quatro se entre olham e em seguida cumprimentam os que acabaram de conhecer.
- Vou deixar-los sozinhos. Tenho negócios a tratar, espero que entendam. Porem deixo de sobre aviso que estão livres para andar nas minhas terras e espero que não cometam excessos, se é que entendem o que quero dizer. - um olhar ameaçador como o de uma loba que protege seus filhotes é lançado aos estrangeiros. - Outro detalhe, os aldeões não gostam muito de estranhos, então tenham cuidado.
A baronesa despede-se dos seus hospedes e de seus filhos. Atravessa a enorme porta de madeira com passadas secas e some no escuro, aonde as tochas e os candelabros não chegam a iluminar. Todos a olham partir como se temessem falar alguma coisa. O clima pesado passa quando Evellin levanta-se:
- Cavalheiros... Desculpem, mas esta manhã mal pôde agradecê-los. Obrigado por me trazerem em segurança. Vou tratar de certos assuntos e em quatro ou cinco dias partiremos. Até mais tarde. - ela segue pelo mesmo caminho que sua mãe.
- Não liguem muito para elas senhores. - O que fora apresentado como Paolo ergue-se de seu assento. - São ocupadas... Como passaram a Viagem? Minha irmã contou-me do incidente. Devem ser de grande confiança do Príncipe para mandá-los até aqui. É uma estrada perigosa e cheia de surpresas.
Poucas palavras foram trocadas com os dois filhos da Baronesa. Os quatro homens estavam estressados da viagem e seria uma boa idéia ir até a vila. Talvez a taverna. Conhecer as pessoas. Se forem passar uma semana ali tinham que conhecer o lugar. Por onde sair caso algo acontecesse ou a quem subjugar quando sentissem fome. Criaturas da noite, amaldiçoados, entretanto a maldição os impulsiona a ter que lidar com mortais de onde provem o alimento fresco. O sangue.
A descida até a vila não demorava muito, talvez uns trinta minutos a pé. A passagem era tranqüila, pois a mansão da baronesa erguia-se na parte mais alta do baronato. A estrada era pequena e cortava campos e plantações onde diariamente os servos cumpriam suas obrigações de acordo com os laços servis.
Em pouco tempo os quatro já estavam no centro da vila, onde havia uma pequena praça com uma fonte em seu centro, provavelmente os moradores tiravam dali à água que bebiam. Algumas casas cercavam o local e as duas maiores construções ali consistiam na taverna e a igreja.
Ramsés aproximou-se da fonte. Olhou os três entrarem na taverna. Estava a esperar alguém, talvez sua presa da noite, estava com fome, precisava se alimentar, a viagem da noite passada consumirá sua energia. Sentou-se e olhou as estrelas. Noite tranqüila.
Ragnar foi o primeiro a entrar na taverna. Todos lá dentro, cerca de sete homens, calaram-se. Em seguida, como se escoltasse aquele homem, os dois gigantes entram e os moradores que ali estavam assutaram-se. Melhor não mexer com eles. Sentaram-se a mesa. "Bebida e comida taverneiro." pedia Ragnar. "Sirva o que há de melhor!".
Olhando tudo aquilo, a impressão que os estrangeiros passaram ao taverneiro... Logo foram contrariados. Balbuciou algumas palavras, mas foi servi-los, afinal ainda eram clientes e precisava se manter.
- Vou ser claro. - firmemente Ragnar quebrou o silêncio entre os três. - Estou aqui em busca de negócios. Armas e guerreiros.
- Planeja uma guerra? - O maior dos dois, Fernan.
- Quase isso, mas primeiro gostaria de me proteger. Vi nesta viagem uma oportunidade de buscar o que procuro, por isso gostaria que fossem objetivos comigo. Têm algo a me oferecer.
- Sou Marques, vivo em uma zona de guerra, acha que não tenho meus servos fieis? - Olhando para Agostinho, Fernan fe-lo falar. - E você. Vi com Aloncio sabes o que partilhamos. O que tem a oferecer?
- A guerra não é um dos meus melhores investimentos, porém ainda a pratico. Sou um cavaleiro.
- Os dois oferecem algo que me agrada muito. O poder da guerra. Talvez possamos nos comunicar melhor. Nós podemos...
A conversa é interrompida por um grito repentino. Todos na taverna se assustam e levantam-se. O que ouve ali fora? Os habitantes daquele baronato sabiam, mas temiam em dizer. O grito do rapaz. Sabiam que era um homem, pois não era agudo como o de uma mulher, quebrará a concentração de Ramsés que estava ali ao lado de fora da taverna e dos que estavam dentro. Uma confusão se formou na taverna estavam todos curiosos para saber. Saiam de dentro como formigas desesperadas fugindo de um formigueiro a beira da destruição. Entre as formigas estavam Ragnar, Agostino e Fernan.
O populacho chegará ao local do incidente e tremeram. Havia sido um massacre. Trucidaram o homem. Não era um rapaz e sim um senhor de aproximadamente quarenta anos de idade, jogado de bruços no fim do beco entre a taverna e uma das casas. Próximo das pilhas de lixo no mesmo beco descansava as vísceras do senhor. "É o señore Aguilar!", "Pobre homem...", "Ó Cristo Rei, que brutalidade. Deve ser aquele assassino novamente." Logo alguns outros moradores que ouviram os gritos do senhor Aguilar aproximavam-se para ver o ocorrido. Homens sentiam náuseas e mulheres chegavam a desmaiar. Ragnar aproximou-se cauteloso, notará algo que ninguém ali notava. Uma rosa vermelha, próximo das vísceras. O assassino deixará uma assinatura, ele pensava. Talvez com aquilo pudesse ganhar a confiança da baronesa, se investigasse o caso e encontrasse o assassino poderia te-la como aliada.
Enquanto Ragnar fuçava o lixo, Ramsés e os outros dois viajantes perceberam uma mulher aflita com isso tudo. Ela chorava debruçada sobre o corpo. Seria a viúva ou a órfã de pai? Era uma mulher velha e cansada, sim a viúva do senhor Aguilar.
- Acalme-se minha senhora. Deus cuidará do seu marido, tenha certeza. - Ramsés tentou confortá-la, porem relutava em proferir aquelas palavras. O único deus em que acreditava era a Serpente. Se fosse digno, talvez Set buscasse aquela alma, afinal seu escolhido estava ali e havia algum propósito. Seria para conseguir almas para alimentá-lo? Uma possibilidade, as intenções do senhor da corrupção eram obscuras.
Enquanto a mulher chorava desesperada a chamada Milícia Oficial aproximara-se do incidente. Arrogantes como qualquer um que se intitula nobre, porem menos que um escudeiro, os oficiais iam empurrando as pessoas que transitavam curiosas. Sob diversas reclamações o que parecia ser o de maior patente pergunta sobre o ocorrido, a mulher chorosa reclama "Não vê o que acontece? o Assassino atacou meu marido e o estripou. O que vão fazer?". Tomando o marido falecido da mulher um oficial subordinado afirma que o corpo será levado a milícia para ser investigado. A mulher poderá ir, mas é só "O resto de vocês retornem para suas casas que amanha terão que trabalhar nas terras da baronesa. Que isso sirva de lição aos que perambulam pelas ruas esta hora da noite." Insensíveis. Porcos.
Ragnar percebeu que os seus três companheiros estavam interessados em ajudar a mulher de alguma forma. Calmo e compassadamente voltou ao baronato, sabia que vira aquela rosa em algum lugar. Rápido chegou à mansão da baronesa e suas intuições mostraram-se corretas. O jardim da Baronesa. Agachada sobre os jardins estava Evellin, distraída a cantarolar. A garota percebe a presença de Ragnar.
- Gosta de rosas? - ela o defere.
- Você que as cultiva?
-Desde criança. O jardim foi me dado de presente pelo meu pai antes de falecer. Veja esta rosa.
O nórdico analisa aquela pequena planta. Semelhante ao que encontrou na cena do assassinato. Planejava falar algo para Evellin sobre o ocorrido, mas agora alimentava desconfianças da garota. Seria ela a assassina? Ou apenas compactuava com ele. Talvez toda família estivesse envolvida, afinal a baronesa é um vampira. E porque ela cuidava tão mal do rebanho?
Ainda na vila os três estavam a acompanhar a senhora, agora viúva, chorosa pela perda.
- O que ocorreu senhora? Isso já havia ocorrido antes? - pergunta o Ramsés com expressão aflita, como se estivesse tomando as dores da mulher.
Com o choro agora diminuto ela responde calma e friamente. “Os assassinatos ocorriam antes, eram freqüentes. mas parou durante certo tempo. e agora isso." A face da mulher mudava devagar para uma expressão de ódio, ela sabia quem era o responsável e declarara abertamente aos que a consolavam. "Sei quem foi... Foi ela, a Bruxa. A baronesa."